segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O MAIS CRUEL DOS MESES

O MAIS CRUEL DOS MESES
Contrariando Eliot aquele Abril não seria o mais cruel dos meses, embora seus primeiros dias me levassem a acreditar no aedo britânico.
A vida, a minha vida, escorria entre o pessimismo e o tédio de ensolaradas frustrações cariocas.
Mas estava marcado para o dia 17 em Porto Alegre o lançamento de meu livro e ao sair do Rio deixei bilhete para a ex-mulher pedindo-lhe que não se entristecesse caso o avião caísse, pois o que eu tinha feito já estava bom para um tipo pra lá de comum.
Em Março, no entanto, estivera em Porto Alegre proferindo palestra num evento literário e aproveitei para fazer contato com velhos amigos e antigos conhecidos. Entre os últimos, uma mulher. Conhecida sim, pois não lembrava sequer seu sobrenome. Foi a última pessoa que contatei, um prosaico telefonema, já no aeroporto minutos antes do embarque de retorno ao Rio.
Disse-lhe que no mês seguinte retornaria a Porto Alegre para o tal lançamento. A conversa foi, como sempre fora, plena de alegria e não fosse a última chamada pelo sistema de som do Salgado Filho, na certa se estenderia. Era a tônica entre nós e duas décadas de distanciamento não modificara em nada.
Parti e sequer a lembrança daquela conversa me acompanhou, mas no dia do lançamento na Livraria Cultura consegui falar-lhe ao telefone, manhã cedo, avisando que aquela era a noite do meu livro.
Marcado para as dezenove horas cheguei ao local minutos antes e logo comecei a assinar os exemplares.
Fazia isso quando meus olhos abandonaram a página do livro para se ocuparem da mulher mais elegante daquela noite. De súbito interrompi o que fazia e me dirigi a ela. Um abraço, os convencionais beijinhos e...
-Como você está linda!
-Obrigada (num sorriso inesquecível)
-Você fez plástica?
-Não (repetindo o sorriso)
-Você está casada?
-Separada
-Então, por favor, sente-se ali a minha mesa.
Ela sentou e em meio a uma assinatura e uma foto, trocávamos algumas frases entre goles de vinho.
Seu exemplar, não assinei, disse-lhe que assinaria após o jantar. E assim foi.
Juntos permanecemos até às seis da manhã quando embarquei rumo a uma palestra no interior do Estado.
Ao voltar ela estava a minha espera na Rodoviária. Ali eu já era outra pessoa.
Dias depois retornava ao Rio, não tardou para ela também ir e no derradeiro dia de maio eu chegava a Porto Alegre para vivermos juntos.
O que me intriga nisso tudo diz respeito àqueles segundos vitais onde abandonei a dedicatória que escrevia para ir recebê-la.
O que senti, naqueles breves instantes, ainda hoje busco entender. Um lapso de tempo onde a mudança de minha vida começava a se encaminhar. Ao mesmo tempo em que hoje me sinto irremediavelmente feliz, também percebo que nada disso poderia ter acontecido. E eu me
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Contrariando Eliot aquele Abril não seria o mais cruel dos meses, embora seus primeiros dias me levassem a acreditar no aedo britânico.
A vida, a minha vida, escorria entre o pessimismo e o tédio de ensolaradas frustrações cariocas.
Mas estava marcado para o dia 17 em Porto Alegre o lançamento de meu livro e ao sair do Rio deixei bilhete para a ex-mulher pedindo-lhe que não se entristecesse caso o avião caísse, pois o que eu tinha feito já estava bom para um tipo pra lá de comum.
Em Março, no entanto, estivera em Porto Alegre proferindo palestra num evento literário e aproveitei para fazer contato com velhos amigos e antigos conhecidos. Entre os últimos, uma mulher. Conhecida sim, pois não lembrava sequer seu sobrenome. Foi a última pessoa que contatei, um prosaico telefonema, já no aeroporto minutos antes do embarque de retorno ao Rio.
Disse-lhe que no mês seguinte retornaria a Porto Alegre para o tal lançamento. A conversa foi, como sempre fora, plena de alegria e não fosse a última chamada pelo sistema de som do Salgado Filho, na certa se estenderia. Era a tônica entre nós e duas décadas de distanciamento não modificara em nada.
Parti e sequer a lembrança daquela conversa me acompanhou, mas no dia do lançamento na Livraria Cultura consegui falar-lhe ao telefone, manhã cedo, avisando que aquela era a noite do meu livro.
Marcado para as dezenove horas cheguei ao local minutos antes e logo comecei a assinar os exemplares.
Fazia isso quando meus olhos abandonaram a página do livro para se ocuparem da mulher mais elegante daquela noite. De súbito interrompi o que fazia e me dirigi a ela. Um abraço, os convencionais beijinhos e...
-Como você está linda!
-Obrigada (num sorriso inesquecível)
-Você fez plástica?
-Não (repetindo o sorriso)
-Você está casada?
-Separada
-Então, por favor, sente-se ali a minha mesa.
Ela sentou e em meio a uma assinatura e uma foto, trocávamos algumas frases entre goles de vinho.
Seu exemplar, não assinei, disse-lhe que assinaria após o jantar. E assim foi.
Juntos permanecemos até às seis da manhã quando embarquei rumo a uma palestra no interior do Estado.
Ao voltar ela estava a minha espera na Rodoviária. Ali eu já era outra pessoa.
Dias depois retornava ao Rio, não tardou para ela também ir e no derradeiro dia de maio eu chegava a Porto Alegre para vivermos juntos.
O que me intriga nisso tudo diz respeito àqueles segundos vitais onde abandonei a dedicatória que escrevia para ir recebê-la.
O que senti, naqueles breves instantes, ainda hoje busco entender. Um lapso de tempo onde a mudança de minha vida começava a se encaminhar. Ao mesmo tempo em que hoje me sinto irremediavelmente feliz, também percebo que nada disso poderia ter acontecido. E eu me pergunto; o que seria de mim agora, nesse momento?
Foi ali naquele momento em que a recebi e na troca de olhares e breve diálogo objetivo que tudo se deu. Não, não sei definir o que senti, sei apenas que se tratava de um sentimento único que jamais se repetirá e na falta de talento para buscar definir esse misto de felicidade e medo, me socorro nas suas palavras : "Te adoro meu poeta!
Desde que entrastes na minha vida, uma sensação estranha me percorre, de que não houve início, mas de que sempre foi, hoje tenho uma sensação de estado de suspensão. Dores ao me afastar. Acho até que não é só saudade é que falta um pedaço."
Agora anseio por intermináveis Abris a permitir comemorar o que essa mulher me trouxe, vida.pergunto; o que seria de mim agora, nesse momento?
Foi ali naquele momento em que a recebi e na troca de olhares e breve diálogo objetivo que tudo se deu. Não, não sei definir o que senti, sei apenas que se tratava de um sentimento único que jamais se repetirá e na falta de talento para buscar definir esse misto de felicidade e medo, me socorro nas suas palavras : "Te adoro meu poeta!
Desde que entrastes na minha vida, uma sensação estranha me percorre, de que não houve início, mas de que sempre foi, hoje tenho uma sensação de estado de suspensão. Dores ao me afastar. Acho até que não é só saudade é que falta um pedaço."
Agora anseio por intermináveis Abris a permitir comemorar o que essa mulher me trouxe, vida.

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